Seg, 22 Nov, 05h45
Um experimento rápido.
Antes de proceder ao próximo parágrafo, deixe sua mente divagar por onde ela quiser.
Feche os olhos por alguns momentos, começando agora.
Bem-vindo de volta à hipótese do nosso experimento: aonde quer que sua mente tenha ido - os mares do sul, seu emprego, seu almoço, as contas a pagar -, essa divagação provavelmente não o fará tão feliz quanto focar intensamente no resto desta coluna.
Não tenho certeza se acredito nesta previsão, mas posso garantir que ela se baseia numa quantidade enorme de divagações catalogadas na edição atual da "Science".
Usando um aplicativo para iPhone chamado " trackyourhappiness" ("monitoresuafelicidade"), psicólogos de Harvard contactaram pessoas no mundo todo em intervalos aleatórios para perguntar como elas se sentiam, o que faziam e em que estavam pensando.
A descoberta menos surpreendente, com base em 250 mil respostas de mais de 2.200 pessoas, foi que as pessoas mais felizes do mundo eram as que estavam no meio de uma relação sexual.
Ou pelo menos estavam gostando, até que o iPhone interrompeu.
Os pesquisadores não têm certeza de quantos deles pararam para atender ao telefone e quantos esperaram até depois do ato sexual para responder.
Infelizmente, tampouco sabem se há uma forma de saber que pensamentos - felicidade, infelicidade, raiva - passaram pelas mentes dos parceiros quando as pessoas tentaram retomar o ato.
Quando solicitadas a classificar seus sentimentos numa escala de 0 a 100, sendo 100 "muito bom", as pessoas que faziam sexo deram uma nota média de 90.
Foram 15 bons pontos acima da segunda melhor atividade, exercícios, que foi acompanhada por conversar, ouvir música, caminhar, comer, rezar e meditar, cozinhar, comprar, cuidar dos filhos e ler.
Perto do final da lista estavam cuidados pessoais, transporte e trabalho.
Quando questionadas sobre seus pensamentos, as pessoas "pegas em flagrante" eram modelos de concentração: apenas 10% das vezes os pensamentos desviavam do esforço do momento.
Mas quando as pessoas faziam qualquer outra coisa, sua mente viajava por pelo menos 30% do tempo, e até 65% do tempo (registrado durante momentos de cuidados pessoais, claramente uma tarefa nada interessante).
Em média, nas 250 mil respostas, as mentes viajavam em 47% das vezes.
Isso surpreendeu os pesquisadores, Matthew Killingsworth e Daniel Gilbert.
"Acho meio estranho agora olhar para uma rua lotada e me dar conta de que metade das pessoas não estão realmente ali", disse Gilbert.
Você pode supor que, se a mente das pessoas viaja enquanto elas estão se divertindo, então esses pensamentos desgarrados devem ser agradáveis - e foi assim, de fato, com os que faziam sexo.
Mas para os outros 99,5% dos indivíduos, não havia correlação entre a alegria da atividade e o prazer de seus pensamentos.
"Mesmo que façamos algo realmente agradável", disse Killingsworth, "isso aparentemente não nos protege de pensamentos negativos.
O índice de divagação da mente é menor para atividades mais prazerosas, mas, quando as pessoas divagam, elas possuem a mesma probabilidade de viajar em direção a pensamentos negativos".
Independente do que as pessoas faziam, seja sexo, leitura ou compras, elas tenderam a se sentir mais felizes se focaram nas atividades, em vez de pensar em outra coisa.
Na verdade, se e onde a mente viajou era um fator mais apurado para prever a felicidade do que a atividade que desempenhavam.
"Se pedirmos às pessoas que imaginem ganhando na loteria", disse Gilberto, "elas normalmente falam sobre as coisas que fariam.
'Eu iria à Itália, compraria um barco, ficaria na praia'.
Elas raramente mencionam as coisas que pensariam.
Mas nossos dados sugerem que o local do corpo é muito menos importante do que o local da mente, e que o primeiro tem uma influência surpreendentemente pequena neste último.
O coração vai aonde a mente o leva, e nenhum dos dois liga muito para onde vão os pés".
Mas mesmo que as pessoas sejam menos felizes quando suas mentes viajam, qual é a causa? Essa divagação da mente seria uma consequência, e não causa, da infelicidade? Para investigar a relação entre causa e efeito, os psicólogos de Harvard compararam o humor e os pensamentos de cada pessoa ao longo do dia.
Eles descobriram que, se a mente de alguém viajava, digamos, às 10h da manhã, então às 10h15 a pessoa provavelmente se sentiria menos feliz do que às 10h, talvez por causa dos pensamentos desgarrados.
Mas se as pessoas estavam de bom humor às 10h, não tinham tendência de se preocupar ou divagar às 10h15.
"Vemos uma evidência para o fato de que a divagação da mente causa infelicidade, mas nenhuma evidência para a infelicidade causar a divagação mental", disse Killingsworth.
Este resultado pode desapontar quem sonha cordado, mas está de acordo com o alerta religioso e filosófico de "Be Here Now" (estar aqui e agora), como o iogue Ram Dass entitulou seu livro em 1971.
A frase mais tarde se tornou o nome de uma música de George Harrison alertando que "uma mente que gosta de viajar pelas esquinas é não é inteligente".
O que os psicólogos chamam de "flow" - mergulhar a mente completamente na atividade - há muito tempo tem sido defendido por não-psicólogos.
"A vida não é longa", disse Samuel Johnson, "e não devemos passar muito tempo numa deliberação ociosa sobre como ela deveria ser vivida".
Os resultados da pesquisa do iPhone concordam com uma das frases favoritas de William F.
Buckley Jr.: "A atividade é inimiga da melancolia".
Alternativamente, poderíamos interpretar os dados do iPhone como suporte para a máxima de Bobby McFerrin: "Don't worry, be happy".
A infelicidade produzida pela mente divagante foi em grande parte resultado de episódios envolvendo tópicos "desagradáveis".
Esses pensamentos desgarrados deixaram as pessoas mais tristes do que comutar, trabalhar, ou qualquer outra atividade.
No entanto, as pessoas com pensamentos desgarrados em tópicos "neutros" estavam apenas um pouco abaixo da média geral em felicidade.
E os que sonham acordados com temas "agradáveis" na verdade ficaram acima da média, embora não tão felizes quanto as pessoas cujas mentes não estavam viajando.
Há momentos, é claro, quando os pensamentos desagradáveis são os mais úteis.
"A felicidade do momento não é a única razão para fazer algo", afirma Jonathan Schooler, psicólogo da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara.
Sua pesquisa mostrou que a divagação da mente pode levar as pessoas a soluções criativas de problemas, o que pode deixá-las felizes no longo prazo.
No entanto, ao longo dos vários meses da pesquisa do iPhone, os participantes que mais viajaram nos pensamentos continuaram mais infelizes do que o resto.
A moral - pelo menos no curto prazo - é: quando você divaga, você paga.
Então, se você foi capaz de focar até o final desta coluna, talvez você esteja mais feliz do que quando sonhou acordado no começo.
Se não, pode voltar a sonhar, começando agora.
Ou pode tentar focar em algo que melhore o humor, com garantia científica.
Só se certifique de deixar o celular desligado.
© 2010 New York Times News Service Tradução: Gabriela d'Ávila
Enviado pelo meu aparelho BlackBerry® da Vivo
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