'A Grande Família' volta mais sombria
Série de sucesso inicia 12ª temporada mais pesada e menos engraçada
O seriado de maior sucesso da Globo retornou com um tom sombrio. A Grande Famíliainiciou, na quinta, sua 12.ª temporada provocando menos riso que o habitual. E o fio condutor é o personagem de Marco Nanini, Lineu Silva - ao sofrer um acidente de carro, ele fica em coma durante quatro anos. Nesse período, sua família e até mesmo o bairro onde mora passaram por profundas transformações, fazendo com que Lineu, ao acordar, sinta-se um estranho naquele ambiente.
Na verdade, trata-se de um truque dramatúrgico para fazer com que o telespectador se veja na pele de Lineu e descubra, ainda que abruptamente, o que mudou naquele período. E, a julgar pelo primeiro episódio, a família Silva parece outra. Agostinho invadiu a garagem da casa de Lineu para aumentar seu terreno e construir uma piscina. Nada surpreendente para quem se apossou do carro do sogro e o transformou em um táxi.
Tuco finalmente conseguiu uma carreira de sucesso como ator de TV, interpretando uma caricatura: o afeminado Serginho que só não sai do armário temendo a reação do pai. O passar do tempo fez com que Florianinho, o neto dos Silva, crescesse e chegasse à pré-adolescência. Também o bairro popular onde mora a família progrediu - se é que se pode chamar de evolução o aumento populacional.
A transformação mais surpreendente, porém, para Lineu e o espectador, foi descobrir que Nenê, apesar de visitar diariamente o marido no hospital, estava quase cedendo ao flerte de Romero, o médico encarregado do caso. Esteio da família, ponto de equilíbrio entre a rabugice convicta de Lineu e as trapalhadas de Agostinho e Bebel, Nenê sempre pareceu ser a Amélia, a mulher perfeita.
Com essa quase derrapada (afinal, não cedeu à tentação), Nenê ganhou uma nova característica que, se pode decepcionar alguns, certamente a torna mais rica e humana. E também mais próxima da realidade. O curto episódio de quinta-feira ainda não revelou todas as novidades - ao voltar à repartição onde trabalha, Lineu vai descobrir que, com sua ausência, ela foi assolada pela corrupção, sem que seu chefe, Mendonça, conseguisse controlar. Mas será que o espectador está disposto a ver um reflexo de seu cotidiano no programa que acostumou a ver como uma divertida paródia?
Criada nos anos 1970 por Oduvaldo Vianna Filho, Armando Costa e Paulo Pontes, A Grande Família pretendia falar dos problemas brasileiros em um momento crítico, quando o País vivia sob ditadura militar. Isso explica o teor sociopolítico que deu prestígio aos episódios. A versão dos anos 2000 certamente teria de vir com outro naipe, mais arejado e burlesco. Alguns personagens marcaram época, como Floriano e Marilda, mas, apesar de manter uma audiência satisfatória, o seriado precisava mudar para continuar com fôlego.
É o que explica, portanto, esse surpreendente tom mais pesado, em que a futilidade de Bebel vai se excedendo, as matreirices de Agostinho continuam sem limite e, surpresa, Florianinho revela-se um diabinho pior que o pai. E, quando se teme pelo destino da família, Lineu ressurge como o fiel da balança: se for mantida a tradição da série, ele retorna para ajustar o que ficou torto. E, como Nenê, ressurge mais humano: é o que revelou sua surpreendente gargalhada ao assistir aos trejeitos do filho na TV, cena que encerrou o primeiro episódio e que deixou esperançoso o espectador.
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