Parque do Ibirapuera sedia a maior exposição de rock and roll que já passou pela América Latina
Mostra gigante Let's Rock traz a SP o fotógrafo Bob Gruen e suas imagens
De Elvis a Radiohead, as seis décadas que englobam a história do rock são o tema abrangente da mostra Let's Rock, a estrear, na Oca do Parque Ibirapuera, no dia 4 de abril. Trata-se de uma prolífica coleção de fotos, áudio, sessões interativas e memorabilia com foco nos deuses do gênero. Entre os destaques, estão as fotos do mítico Bob Gruen, fotógrafo pessoal de John Lennon, New York Dolls e Tina Turner, entre outros. Bob vem ao Brasil para a abertura desta maior mostra do gênero na América Latina para falar sobre suas fotos. Ele atendeu o Estado de Nova York para uma conversa por telefone sobre carreira e algumas de suas fotos mais famosas.
O seu currículo, de Lennon a Zeppelin e Sex Pistols é lendário. Como começou a tirar fotos?
As pessoas me perguntam sobre qual era o meu plano de carreira e tal. Eu não tinha um plano de carreira. Aprendi a fotografar cedo, com a minha mãe. Ganhei a minha primeira câmera aos oito. Naturalmente, fotografei a minha família. Um bom tempo depois, quando já havia terminado o colegial, morei com uma banda de rock. A expressão nos anos 60 era 'turn on tune in, drop out (se ligue, se 'antene' e deixe rolar, em tradução livre da frase cunhada pelo guru psicodélico Timothy Leary). Eu fiz exatamente isso, mas sem saber que estava me 'antenando' na minha própria carreira, porque viver com uma banda de rock e tirar fotos era o meu hobby. A banda então conseguiu um contrato com uma gravadora, os empresários gostaram das minhas fotos e me contrataram para outros trabalhos. E toda vez que fazia fotos conhecia mais gente. É foi assim desde então.
E como foi a transição do seu hobby para o trabalho com as grandes bandas?
Minha primeira credencial foi no Newport Folk Festival, de 1963, aquele em que o Dylan começou a tocar guitarra e foi vaiado. Mas eu não estava lá para fotografar só o Dylan. A primeira banda grande com que eu trabalhei foi a de Ike e Tina Turner. No fim de um show deles, havia um momento em que Tina dançava sob uma luz estroboscópica. Eu pensei em prolongar a abertura da minha câmera para conseguir uns três ou quatro flashes de Tina em uma foto só. Gostei do resultado, pois capturava a energia de Tina. Alguns dias depois, um amigo me levou a outro show da dupla e, quando Ike passou por nós, meu amigo me empurrou na frente dele e disse "mostre as fotos". Ike gostou, me levou para o camarim, me apresentou a Tina e um ano depois eu fazia a minha primeira capa de disco, para um álbum deles. A partir daí as coisas engrenaram.
E quão diferente é a fotografia de rock da fotografia de celebridades?
Os paparazzi têm que ir atrás de alguém na rua, que geralmente não quer ser fotografado. No rock, em primeiro lugar, há um show, com todos os aspectos teatrais envolvidos nisso. E não é algo que qualquer pessoa possa fazer, porque você tem que saber lidar com os artistas que fotografa. Isso não é necessário em fotografia de celebridades. Mas eu sempre tive amizade com músicos e artistas em geral. Desde o colégio. E quando você trabalha com pessoas com quem você tem uma relação menos profissional, você tem mais tempo, tira mais fotos e elas saem melhores.
É mais difícil fotografar bandas hoje?
Conseguir acesso às bandas é muito mais difícil do que já era nos anos 60 e 70. As bandas hoje em dia tentam controlar mais a própria imagem. Também há muito mais competição. Antigamente, era preciso saber tudo sobre foco e luz, sobre como revelar e lavar uma foto. Era um processo extremamente complicado, e muita gente não queria fazer isso. Hoje, é tudo bem mais fácil. Eu não sei como faria se estivesse começando hoje. Acho que seria um taxista.
Com quem você trabalha hoje em dia?
Eu gosto do Green Day. Estava no South By Southwest e passei um tempo com o cantor Alejandro Escovedo. Tenho outros amigos ainda. Mas, tratando-se de nomes grandes, gosto de passar tempo com o Green Day. Eles são a melhor e mais engraçada banda de rock de hoje em dia.
E os New York Dolls? Como os conheceu?
Foi engraçado. Na época, estava trabalhando com o John Lennon, e a banda que abria para ele e a Yoko, a Elephant Memory, era gerenciada pelas mesmas pessoas que gerenciavam os Dolls. Eles estavam no começo ainda. Acabei indo a um show deles e gostei muito. Eles tinham uma atitude muito rock and roll. Era uma coisa viril, bem na sua cara. Eles eram os caras mais descolados possíveis. Gostei deles, eles gostaram de mim e acabei ficando por ali. Fiz várias capas de discos deles. Eu sempre fui atrás das bandas que gostava, sempre fui amigo das bandas. O pessoal do Dolls ou do Clash é como minha família.
Qual a história daquela icônica foto de Lennon com a camisa New York City?
Ele estava gravando. Pediu para que eu fosse até o apartamento dele porque não tinha tempo para ir ao estúdio. A ideia era que faríamos uma série de close-ups para a capa de um disco. Então fomos para a cobertura do prédio e tiramos fotos com expressões diferentes. Então me lembrei que tinha dado uma daquelas camisetas de New York City para ele um ano antes. Eu tinha umas seis e as usava todos os dias. Ele a vestiu e caiu bem com o horizonte de arranha-céus.
Let's Rock
Oca - Parque do Ibirapuera
Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, Portão 3.
De 3ª a dom., 10/22 h. Abre 4/4. R$ 20. Até 27/5.
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