O Globo
Com agências internacionais
LONDRES - A promessa de justiça rápida da Scotland Yard e a prisão de 235 pessoas não foram suficientes para inibir novos ataques em diversos bairros de Londres, inclusive em plena luz do dia. Grupos de jovens atacaram nesta segunda-feira os bairros de Hackney, Peckham, Lewisham, Croydon, Clapham, Kilburn, Camden, Notting Hill, Colliers Wood, Ealing e Dalston, entre outros. A violência também se alastrou para além da capital, chegando a Liverpool, Leeds e Birmingham, segunda cidade mais populosa do país.
Diante dos ataques, o primeiro-ministro britânico David Cameron cancelou suas férias de verão e está voando para Londres nesta segunda-feira, segundo informaram funcionários de seu gabinete. Ele deve presidir na terça-feira uma reunião do gabinete de crise, enquanto policiais e legisladores buscam formas de conter a violência que atinge a capital há três dias. O prefeito de Londres também anunciou que vai interromper suas férias e retornar à cidade.
O nível de violência levou ainda o comissário interino da Scotland Yard, Tim Godwin, a pedir que as pessoas evitem sair às ruas. Ele fez um apelo para que pais em contato com seus filhos.
É a primeira vez que os confrontos entre moradores e policiais ocorrem de dia, desde a ação de vandalismo, no sábado, em Tottenham. Em imagens transmitidas ao vivo pela TV inglesa, era possível ver os manifestantes quebrando vidraças de lojas e restaurantes e ateando fogo em carros e até prédios.
Usando capuzes para esconder o rosto, os jovens ainda jogaram pedaços de madeira nos policiais, que tentavam fazer uma barreira na região. Segundo os primeiros relatos, a confusão teria começado durante uma operação de busca da Scotland Yard em Hackney. De acordo com jornal "The Guardian", trens não estão parando na estação do bairro e ônibus precisaram ser desviados.
Em Peckham, um ônibus foi queimado, e Lewisham, também no sul de Londres, podia-se ver vários carros em chamas. Vários incêndios eram registrados em Croydon, sul da capital, um deles de grandes proporções consumindo totalmente uma loja de móveis. Em Clapham, jovens mascarados corriam pelas ruas com coquetéis molotov, enquanto centenas de pessoas andavam pelas ruas do bairro com produtos roubados da loja de departamentos Debenhams. Já em Kilburn, no noroeste da capital, 20 pessoas foram presas.
À noite, a onda de distúbios chegou ao bairro nobre de Notting Hill, onde um carro foi queimado e vitrines foram depredadas. Em Camden,manifestantes entraram em confronto com policiais na estrada Chalk Farm. Em Colliers Wood, postos de gasolina e lojas foram alvo de ataques. Cerca de 100 jovens também atacaram um veículo da polícia no Centro Tandem. Já em Ealing, a rua principal do bairro foi bloqueada depois que carros e lojas foram depredadas.
Segundo o "Guardian", cerca de 200 jovens entraram em confronto com policiais no Centro de Birmingham, vitrines de lojas foram quebradas, e uma delegacia foi incendiada. Uma "zona de exclusão" foi instalada ao redor do shopping center "Bullring", que fica perto da área onde os conflitos iniciaram. A polícia local disse que mais agentes foram convocados para trabalhar depois que trocas de mensagens na Internet alertavam para uma mobilização na cidade.
Em Leeds, no norte da Inglaterra, a polícia foi chamada depois que um homem foi ferido por um tiro na área de Chapeltown, região violenta no passado. Mais de 100 jovens, alguns usando máscaras, se reuniram e cometeram atos de vandalismo na região. Enquanto em Dalston um ônibus foi incendiado.
No domingo, os conflitos se espalharam por outros bairros da cidade, além de Tottenham, onde um grupo de jovens protestou violentamente contra a morte de Mark Duggan, morador do bairro de 29 anos, baleado numa troca de tiros com policiais na quinta-feira passada. Ao todo, 35 policiais ficaram feridos, nove só na madrugada passada.
A Scotland Yard classificou de "atos de vandalismo" os últimos episódios na periferia na capital inglesa. O comissário assistente da polícia metropolitana de Londres, Stephen Kavanagh, disse que agentes estão deixando, voluntariamente, as férias para trabalhar. Kavanagh descreveu a onda de protestos como um "comportamento lamentável, que está destruindo a vida e os negócios" dos londrinos e prometeu justiça rápida. Como a expectativa é que os conflitos continuem à noite, um esquema especial está sendo montado.
Grupos de jovens saquearam lojas de eletrodomésticos, de celulares e de roupa em Enfield, ao norte, em Walthamstow, ao leste, e em Brixton, ao sul da capital inglesa. Também foram registrados problemas em Islington, também ao norte, e em Oxford Circus, no centro comercial londrino. O vice-primeiro-ministro britânico, Nick Clegg, condenou os ataques deste domingo, classificando-os de "atos oportunistas de violência e roubo, que não têm nada tem a ver com a morte de Marl Duggan".
Ainda que os incidentes de domingo não tenham alcançado o nível de violência que a cidade viveu no sábado em Tottenham, o anúncio de centenas de prisões é visto como uma estratégia da Scotland Yard, que espera que as numerosas detenções inibam novos atos de vandalismo.
Com os Jogos Olímpicos marcados para o ano que vem, Londres vive os piores conflitos sociais dos últimos 30 anos, e o medo da falta de segurança assombra a cidade sede das Olímpiadas. Em comunicado divulgado neste domingo, o prefeito de Londres, Boris Johnson, afirmou ter "total confiança na polícia e no fato de que Londres continua sendo uma das cidades mais seguras do mundo".
Os primeiros incidentes de domingo começaram ainda na tarde de ontem em Edmonton. Mas, segundo a BBC, os piores conflitos aconteceram em Brixton, onde a falta de policiamento deu liberdade a vários grupos que assaltassem diversas lojas, entre elas a cadeia H&M e restaurantes do Mc Donald's. Ainda não foi esclarecido se foi um problema de estratégia da Scotland Yard ou se a corporação está sem homens para cobrir a periferia de Londres, já que parte do efetivo está de férias. Policiais de várias partes do país foram deslocados para a capital inglesa.
PROBLEMAS: Conflito entre jovens e polícia mostra insegurança na sede das Olimpíadas
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