O Globo com agências internacionais
LONDRES - Entre prédios destruídos e vários carros queimados, os britânicos procuravam explicações neste domingo para os piores conflitos sociais em Londres em quase 30 anos. A morte de um homem num bairro onde vivem comunidades de imigrantes negros acabou por deflagrar distúrbios que destruíram lojas, veículos e casas e deixaram dezenas de feridos. Os distúrbios, que começaram na noite de sábado em Tottenham, continuaram pela madrugada de domingo no mais pobre ainda bairro de Enfield. E deixaram evidente a falta de comando da polícia da cidade que sediará as Olimpíadas em 2012. Novos distúrbios violentos foram registrados na noite deste domingo.
A confusão começou no fim da tarde de sábado, quando moradores de Tottenham foram para a frente da delegacia do bairro protestar contra a morte de Mark Duggan, de 29 anos, baleado numa troca de tiros com policiais na quinta-feira passada. Como a polícia não atendeu aos manifestantes, grupos de jovens começaram a atirar pedras e garrafas em chamas. Durante a noite, a multidão saiu totalmente de controle e começou a atacar a polícia, prédios e carros, em circunstâncias ainda não esclarecidas. Os conflitos se estenderam por toda a noite de sábado. Na noite deste domingo mais jovens voltaram a entrar em conflito com a polícia, desta vez em Enfield. Somente em Tottenham, 55 pessoas foram presas e 26 policiais ficaram feridos.
"A cidade é segura", garante prefeito
Agora, os violentos conflitos entre jovens e a polícia engrossaram a lista de problemas a resolver antes das Olimpíadas, enumerados pelo ex-chefe da Polícia Metropolitana ao se demitir, no mês passado, em meio ao escândalo da escuta telefônica. Na ocasião, Paul Stephenson listou o que chamou de "enormes desafios" para a boa realização dos jogos: a prática generalizada da escuta telefônica, a crise no comando da polícia e a garantia de segurança para as Olimpíadas mesmo com severos cortes no orçamento. Agora, há também uma emergente crise social.
Em comunicado divulgado neste domingo, o prefeito de Londres, Boris Johnson, afirmou ter "total confiança na polícia e no fato de que Londres continua sendo uma das cidades mais seguras do mundo".
Mas, segundo analistas, não é bem assim. A frustração vem aumentando, sobretudo em bairros mais empobrecidos, como Tottenham e Enfield, desde que o governo anunciou o seu "orçamento de austeridade", com profundos cortes em assistência social e saúde.
Neste domingo, líderes comunitários de Tottenham contaram que haviam alertado à polícia, ainda na tarde de sábado, sobre o risco de distúrbios, muito antes de as coisas saírem do controle. Porém, a polícia só se mexeu quando carros e prédios já ardiam em chamas. Mais de cem pessoas pediram para falar com autoridades policiais, pois temiam que a situação se agravasse.
- Eu disse ao inspetor-chefe que a tensão estava aumentando, que as pessoas estavam ficando cada vez mais agressivas. Mas a polícia demorou a chegar e, quando o fez, agiu com violência, só piorando a situação - contou Stafford Scott, um líder comunitário que acompanhou a família do homem morto na quinta-feira, Mark Duggan, durante os protestos.
Segundo ele, a ideia inicial era fazer, a partir das 17h de sábado, um protesto silencioso de uma hora. Eles esperavam ser recebidos por policiais para obterem alguma explicação formal sobre a morte de Duggan, ocorrida durante uma operação que investigava o tráfico de armas em comunidades africanas e caribenhas da capital. Os manifestantes, no entanto, ficaram na porta da delegacia até às 21h, sem que autoridade alguma os tenha recebido.
Rachel Cerfontyne, de uma comissão independente da polícia responsável pela investigação das circunstâncias da morte de Duggan, garante que "ele não foi executado" e que teria havido muitos "malentendidos sobre sua morte".
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