Opinião do Blog:
A festa da gastança pública e o exagerado inchaço do governo vão cobrar a conta. E será alta! Bom, o governo foi re-eleito, então Dilma não tem do que reclamar! Ou tem? Pode? Deveria...
Ricardo Bampa - 27/01/2011
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27/01/2011 - 20:55
Veja.com
Ajuste fiscal fez a diferença, apontam os economistas. Após a crise de 2008, o banco central turco, além de baixar os juros, conseguiu mantê-los reduzidos
Derick Almeida
Dívida pública turca passou dos 78,9% do PIB em 2001 para 49% do PIB em 2010 (Marco Pomarico/Viagem e Turismo)
A elevação da taxa básica de juros (Selic), na semana passada, reafirmou a liderança nacional no ranking mundial de juros reais (indicador que desconta a inflação). Após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, levantamento da Corretora Cruzeiro do Sul apontou uma taxa projetada para doze meses* de 5,5% ao ano para o país; bem à frente dos 1,9% a.a. da Austrália, que ficou com a segunda posição. A notícia chamou a atenção para o fato de a Turquia – que, por vários meses, revezava com o Brasil na primeira colocação – estar em 12º lugar, com uma taxa de apenas 0,1% ao ano. Quando se comparam as taxas dos últimos 12 meses**, a economia brasileira era penalizada por juros reais de 3,9% a.a., enquanto a turca, de 0,5% a.a. – dois anos atrás, os valores eram de, respectivamente, 6,73% e 6,69%.
As razões por trás desta conquista da Turquia – país com Produto Interno Bruto (PIB) de 615 bilhões de dólares, pouco mais de um terço do PIB brasileiro, e população de 75 milhões de habitantes – são reveladoras de como fórmulas consagradas de política econômica trazem resultados praticamente certos. Em vez de insistir na opção por um governo 'mastodôntico', as autoridades do país, ao longo de uma década, reestruturam e enxugaram o estado, além de sanear o sistema financeiro. Nos meses que se seguiram à crise de 2008, quando demanda e preços despencaram, elas puderam diminuir significativamente os juros, mantendo-os reduzidos. Já o Brasil, com sua lambança fiscal, conseguiu baixar a Selic por pouco mais de um ano apenas.
Crise e oportunidade – A elucidação da necessidade de reformas econômicas estruturais foi conquistada a duras penas. Em 1999, a Turquia encontrava-se assolada por uma grave crise de origem bancária e fiscal, que tornou inevitável a tomada de um empréstimo de 15 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional (FMI). A liberação dos recursos estava condicionada à promessa de realização de ajustes nas contas públicas e ao saneamento dos bancos. As autoridades não avançaram o suficiente nas reformas, o que culminou numa deterioração ainda maior da economia em 2001. O FMI, a partir de então, apertou o cerco às autoridades turcas. "A entrada do FMI de maneira mais intensa na economia turca obrigou o país a reformular seu sistema bancário; implementar melhores métodos de regulação na economia; diminuir sua dívida pública e registrar superávits primários", destacou Christian Keller, economista-chefe para países emergentes europeus da Barcalys Capital. À tutela do Fundo, somaram-se os esforços realizados pela Turquia para tentar se adequar ao padrão fiscal básico exigido pela União Europeia, como um déficit orçamentário de, no máximo, 3% do PIB.
De fato, dados do Deutsche Bank revelam que a dívida pública turca partiu dos 78,9% do PIB em 2001 para 49% do PIB em 2010, enquanto o déficit fiscal nominal passou de 13,5% do PIB para 3,4% do PIB. No mesmo período, a dívida pública brasileira saiu de 60,5% do PIB para 59,3% do PIB. Já o déficit nominal, de 5,2% do PIB, passou a 2,1% do PIB. Em menos de dez anos, a Turquia conseguiu reconstruir um país em frangalhos para 'outro' cuja economia cresceu 7,5% no ano passado. Em 2001, quando a crise se aprofundou no país, a economia teve retração de 5,7%.
Nem mesmo a crise global em 2008 e 2009 impediu a melhora das condições da Turquia. Pelo contrário, o país conseguiu uma janela de oportunidade para reduzir ainda mais as taxas de juros. "Naquele período, a demanda doméstica caiu 7,2%, o que, junto com o declínio do preços das commodities (como petróleo e alimentos) e a conseqüente redução da pressão inflacionária, permitiu que o banco central turco trouxesse os juros nominais de 16,75% para 6,5%", explicou Robert O'Daly, especialista em economias da Europa Ocidental da Economist Intelligence Unit (EIU).
Já o Banco Central do Brasil baixou a Selic de 13,75% em dezembro de 2008 para 8,75% em julho do ano seguinte. Em menos de um ano, a taxa voltou a subir, pois, graças a políticas de desoneração fiscal e injeção de recursos públicos na economia, o mercado interno voltou a registrar forte aquecimento – o que, no Brasil, é praticamente sinônimo de inflação, pois o estado, que responde por 40% do PIB, é sempre um consumidor voraz. Em 2010, os juros nominais aumentaram dois pontos porcentuais, retornando à casa dos dois dígitos. Enquanto isso, na Turquia, a política de juros baixos prosseguiu; inclusive com redução de 6,5% para 6,25% em janeiro.
"Mesmo com a economia turca voltando a um ritmo de crescimento acelerado, a autoridade monetária fez questão de deixar os juros em níveis baixos para que o fluxo de capital estrangeiro no país diminuísse e a lira turca não se valorizasse", ponderou O'Daly. Ante os juros reduzidos, o banco central do país busca frear o crédito – e o aquecimento do mercado interno – com uma medida de efeito semelhante ao do recolhimento compulsório. A instituição obriga os bancos a aumentarem suas reservas, o que limita sua capacidade de conceder empréstimos. "Enquanto a inflação não decolar, esta será a política deles", completou o especialista.
No Brasil, no entanto, não há nenhuma perspectiva de redução dos juros. Para Robert Wood, analista sênior para América Latina da Economist Intelliegence Unit (EIU), a única maneira de o governo brasileiro baixar a taxa real de juros da economia seria por meio de uma política incisiva de cortes de gastos públicos ano após ano. "Não acredito que isso aconteça no governo de Dilma Rousseff. Um ajuste orçamentário da ordem de 30 a 40 bilhões de reais é pouco e teria impactos irrisórios. Sem este acerto, as taxas de juros serão ainda maiores que os 12,25% ao ano que projetamos para 2011", afirmou.
O apelo pela austeridade fiscal não é em vão. Os resultados comprovam sua eficácia, como no caso da Turquia. No entanto, lembram os economistas, a perspectiva para todo o mundo hoje é de alta de juros. "Esta queda na Turquia foi surpreendente e não deve permanecer por muito mais tempo devido às pressões inflacionárias na economia internacional. De qualquer maneira, mesmo aumentando os juros nominais, a Turquia pode chegar a 9% ou 10%, nada próximo dos mais de 20% de anos atrás", afirmou Keller. E ainda abaixo dos 12,25% esperado pelo mercado para a Selic no final deste ano.
*taxas de juros atuais descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses
**taxas de juros dos últimos 12 meses descontada a inflação dos últimos 12 meses (novembro de 2009-outubro de 2010)
Tags: ajuste fiscal, brasil, juros, turquia
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