O que significa Vanderlei acender a pira olímpica?
A escolha do ex-maratonista ensina sobre o Brasil e o espírito dos jogos
RIO - A escolha do atleta que acende a pira olímpica não tem uma regra: se tivesse, não teria resultados tão inesperados. Pode ser uma homenagem a um gigante, ponto pacífico, como foi com o eterno campeão Muhammad Ali, em 1996. Pode ser uma reparação metonímica, como a escolha de Cathy Freeman, Sydney-2000, que representava a nação aborígene marginalizada na Austrália. Ou pode ser um projeto de país, como os jovens que se uniram para acender a de Londres.
‘A pira de Vanderlei é sobre encarar as dificuldades e, mesmo sem alcançar o padrão ouro, cruzar a linha com dignidade e aquela patológica alegria’
Para o Rio, a honra coube a Vanderlei Cordeiro de Lima, colosso de simpatia desde que sua triste figura liderava a maratona de Atenas-2004 até ser abalroado por um maluco irlandês. Ficou com um bronze, mas foi com tal felicidade para esse bronze que deu ao mundo uma lição de espírito esportivo: não havia a quem culpar, apenas a má sorte, aquela que os leprechaunsirlandeses trazem.
A verdade é que, se uma cerimônia de abertura é um espetáculo construído pelos séculos de cultura, educação e avanço de uma civilização, a hora em que a pira entra no estádio e é finalmente acesa é um retrato do momento. É uma carta ao mundo, um envelope das mensagens urgentes que o país precisa emitir — para dentro e para fora — e um teste para a criatividade com que as emite. É muito para ser simbolizado numa só pessoa, e, por isso, todas as apostas têm seus prós e contras.